Estudo constata presença do vírus da zika por 17 meses em criança
Infecção prolongada é inédita, segundo médico e pesquisador colaborador da Fiocruz Carlos Brito. Criança é pernambucana e ainda apresenta problemas de saúde.
Por Thamires Oliveira, G1 PE
15/08/2018 12h50 Atualizado há 6 horas
O vírus da zika é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti (Foto: Pixabay/Divulgação)
Um estudo realizado em Pernambuco apresenta o caso de uma criança com microcefalia que possui a presença do vírus da zika no organismo por um tempo recorde de um ano e cinco meses. Segundo Carlos Brito, médico e pesquisador colaborador da Fiocruz, essa situação de infecção prolongada é inédita e preocupa os pesquisadores.
O estado foi um dos que mais registrou casos da síndrome na época. A criança do estudo, de 1 ano e cinco meses, nasceu com microcefalia com caso confirmado de zika. Ela passava por tratamento neurológico à nível ambulatorial para conter os sintomas da doença, com a neurologista infantil Adélia Henriques.
A neurologista conta que, apesar de a criança ter microcefalia clínica identificada por zika, ela não possuía a coleta de identificação do vírus. O caso é acompanhado por uma equipe médica de Pernambuco.
"Quando a paciente chegou pra mim, ainda não havia realizado a coleta, que geralmente é feita assim que o caso de zika é notificado. Eu então solicitei que, mesmo tardiamente, aos seis meses de idade, fosse feita. Para nossa surpresa, deu positivo", conta a médica, que pediu repetição do exame.
"Em um novo teste, realizado recentemento, aos 17 meses, constatamos que a presença do vírus permanece no organismo da criança", explica Adélia Henriques.
De acordo com o médico e pesquisador colaborador da Fiocruz Carlos Brito, a possibilidade de que a criança tenha sido infectada mais de uma vez ao longo desse período foi descartada. "A gente identificou que é o mesmo vírus através do RNA, comparamos a sequência genética e é a mesma", afirma.
Preocupações
Para os pesquisadoras, as dúvidas sobre as consequências da permanência do vírus no organismo ainda são muitas, uma vez que o caso é inédito na literatura. O pesquisador Carlos Brito, no entanto, acredita que esse fator pode estar relacionado à dificuldade de melhora no quadro clínico da paciente.
"Ela tinha muitas convulsões e, apesar do tratamento, não estava evoluindo bem. Isso acontece com muitas crianças, mas é possível que a presença do vírus seja o fator que impede essa resposta clínica", explica o médico.
Além da possibilidade de agravar os sintomas de crianças com microcefalia, o caso também preocupa os pesquisadores por aspectos relacionados à contaminação da população.
"Uma pessoa que tem um vírus no organismo pode servir de reservatório da doença. O mosquito pica ela, é infectado e depois espalha a doença para a população. Mas não sabemos se isso é possível com o zika, nem se a carga viral é suficiente para contaminar outros. Ainda não podemos afirmar nada", diz o médico.
Estudos em adultos
De acordo com Brito, estão sendo realizados outros estudos sobre a persistência do vírus também em organismos de adultos. Ele acredita que, assim como o vírus no organismo da criança pode ter deixado os sintomas mais severos, a permanência do vírus em adultos possa estar relacionada ao surgimento de doenças graves, como a Síndrome de Guillain-Barré.
"Em adultos, o vírus persistente no organismo pode estar relacionado a outras doenças confirmadas que surgem da zika, como a Síndrome de Guillain-Barré, encefalite e neurite óptica”, afirma. "Ainda não tem nada certo, mas é um fato que realmente preocupa. Ainda é preciso muito estudo. Cada vez mais temos surpresas ruins com esse vírus", afirma.
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