BRASIL - MORADORES DE VALADARES E COLATINA AINDA COMPRAM ÁGUA PARA CONSUMO, ELES DIZEM NÃO CONFIAR NO ABASTECIMENTO APÓS LAMA PASSAR PELO RIO DOCE. PREFEITURAS AFIRMAM QUE FAZEM ANÁLISES E QUE ÁGUA É PRÓPRIA.


Cida AlvesDo G1, em Governador Valadares









Desde o começo do ano, a rotina do aposentado Sebastião Lúcio e Silva, de 68 anos, passou a ter um compromisso fixo. Duas vezes por semana, ele pega sua bicicleta e pedala até um posto nas margens da BR-116, em Governador Valadares (MG), para pegar água de um poço artesiano. A viagem dura em torno de 45 minutos, e ele traz para casa meia dúzia de galões de seis litros de água, que usa para cozinhar. Para beber, só água mineral – 40 litros por semana.
Desde que a lama da barragem de Fundão passou pelo Rio Doce, de onde é captada a água que abastece a cidade, Sebastião diz não confiar na qualidade do líquido que sai das torneiras. “A água até que tá normal, mas tem muito cloro. A gente precisa deixar ela descansando. Ninguém se atreve a tomar essa água, mesmo depois de passar no filtro. Tá todo mundo comprando água mineral”, afirma.
O aposentado afirma ainda que, neste ano, o bairro onde mora, Atalaia, começou a ter problemas no abastecimento. Segundo ele, falta água de uma a duas horas todos os dias.
O professor de educação física Tiago Carlos Flávio, de 33 anos, diz que se mudou de Valadares por causa da água depois do acidente da barragem. “Pessoas falam que pode beber, outras falam que não, mas eu acredito que é melhor não arriscar. Inclusive, me mudei recentemente por causa dessa água.”
Governador Valadares e Colatina (ES) captam água exclusivamente do Rio Doce. Quando a lama atingiu o rio e passou por essas cidades, o abastecimento precisou ser suspenso. Em Valadares, a captação foi interrompida em 8 de novembro, três dias após o acidente, e foi retomado uma semana depois.
Sebastião Lúcio, morador de Governador Valadares, busca água em poço artesiano duas vezes por semana. Ele não confia na água da rua após lama no Doce (Foto: Cida Alves/G1)Sebastião Lúcio vai duas vezes por semana pegar água em poço artesiano em Valadares (Foto: Cida Alves/G1)
Em Colatina, o abastecimento foi interrompido no dia 18 de novembro e foi retomado cinco dias depois. No período sem água, as cidades foram abastecidas por carros-pipa e houve distribuição de água mineral pela Samarco, empresa controlada pela Vale e pela BHP.
Desconfiança
No município do noroeste do Espírito Santo, a população também acrescentou ao orçamento doméstico o custo com a compra de água mineral. A prefeitura anunciou que a água tratada pode ser usada nas residências, mas, mesmo um ano depois do acidente, muitos moradores dizem que ainda não conseguem confiar.

“Para cozinhar e para beber, nem pensar. Não consigo confiar nem com tratamento”, afirma a dona de casa Leni Carvalho. Valdecir Silva diz que passou a ir de 15 em 15 dias a uma nascente para pegar água para casa. “Água para beber a gente ainda não confia para usar a que eles fornecem para gente.”









Análises
A Prefeitura de Governador Valadares afirmou que o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) voltou a tratar e distribuir água do Rio Doce no dia 15 de novembro do ano passado após análise da Companhia de Saneamento de Minas Gerais que constatou a potabilidade da água. Desde então, diz, “o SAAE monitora constantemente a água distribuída à população com análises diárias feitas no seu próprio laboratório e por análises feitas em laboratórios credenciados pelo Inmetro”.

O município mineiro afirma ainda que “tem lutado de todas as formas para que a Samarco deixe a captação alternativa de água nos rios Suaçuí Grande e Pequeno como um legado para Valadares. A administração tem cobrado, permanentemente, uma adutora com capacidade para tratar 1,2 mil litros por segundo.”
A Prefeitura de Colatina afirmou que são feitas análises diárias de qualidade da água entregue à população e que ela “é segura e está em conformidade com a portaria 2.914 do Ministério da Saúde”. Segundo o município capixaba, são realizadas obras de captação alternativa nos rios Santa Maria e Pancas e perfuração de poços artesianos.
“Todas as obras e serviços relacionados à implantação da infraestrutura de captação de água previstos no decreto, bem como os custos e as despesas correspondentes, são de responsabilidade exclusiva da empresa Samarco Mineração”, diz a nota da Prefeitura de Colatina.
O município afirma ainda que a empresa está fazendo obras para melhorar as estações de tratamento dos bairros Adelia Giuberti, Nossa Senhora Aparecida e Colúmbia. “As obras estão sendo executadas pela Samarco, com supervisão do Serviço Colatinense de Meio Ambiente e Saneamento Ambiental (Sanear). O resultado será mais qualidade e segurança da água tratada distribuída para a população.” Os custos de realização dos exames da água entregue à população de Colatina também são da mineradora.
De volta rio doce caminho lama mariana Dia 5 (Foto: Editoria de Arte/G1)





















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