O BEM-ESTAR QUE OS CUBANOS QUEREM NÃO É VENDIDO NAS LOJAS DE GRANDES MARCAS. Tem que ver a cara que os cubanos fazem quando são informados do que está acontecendo fora da sua ilha. Levam a mão à cabeça com o primeiro relato sobre a insegurança no Brasil. Não entendem como as drogas são um problema estrutural no México. Ou que a educação e a saúde públicas não são garantidas em muitos países. Eles reclamam, sim, de que ainda estejam longe do horizonte de prosperidade que desejam. Muitos seguem pensando em emigrar para os Estados Unidos, embora agora Cuba não seja o empecilho. São os EUA que os impedem de entrar. Foi o que aconteceu com Carlos, um motorista de ônibus que trabalha nas horas de folga como taxista, a bordo de um Oppel dos anos 50. Por três vezes ele tentou o visto para ver seu filho médico em Miami. Três vezes teve o pedido negado. O bem-estar que os cubanos querem não é vendido nas lojas de grandes marcas que oferecem consumo desenfreado, conforto e luxos. Os cubanos querem é melhorar sua baixa renda.
O bem-estar que os cubanos querem não é vendido nas lojas de grandes marcas
Por Gustavo Veiga, de Havana
Tem que ver a cara que os cubanos fazem quando são informados do que está acontecendo fora da sua ilha. Levam a mão à cabeça com o primeiro relato sobre a insegurança no Brasil. Não entendem como as drogas são um problema estrutural no México. Ou que a educação e a saúde públicas não são garantidas em muitos países. Eles reclamam, sim, de que ainda estejam longe do horizonte de prosperidade que desejam. Muitos seguem pensando em emigrar para os Estados Unidos, embora agora Cuba não seja o empecilho. São os EUA que os impedem de entrar. Foi o que aconteceu com Carlos, um motorista de ônibus que trabalha nas horas de folga como taxista, a bordo de um Oppel dos anos 50. Por três vezes ele tentou o visto para ver seu filho médico em Miami. Três vezes teve o pedido negado. O bem-estar que os cubanos querem não é vendido nas lojas de grandes marcas que oferecem consumo desenfreado, conforto e luxos. Os cubanos querem é melhorar sua baixa renda.
Aqueles que aspiravam realizar o sonho americano já vivem nos Estados Unidos há décadas. Partiram pelo porto de Mariel ou chegaram em jangadas à costa da Flórida. Os que gostariam de segui-los têm uma tarefa difícil. A hostilidade do governo Donald Trump fez com que agora, para conseguir o visto, precisem viajar para Guiana ou Colômbia. A passagem custa-lhes nada menos que 900 dólares. Mais um obstáculo a caminho dos EUA, embora o escritório americano em Havana diga aos cubanos que o problema será resolvido nos próximos meses.
Após a eleição de Miguel Díaz Canel como chefe de Estado, a vida segue com normalidade na ilha. Talvez porque haja certeza absoluta de que o socialismo permanecerá. Desde o ponto de partida em 1959, Cuba procura se reinventar. O país precisou ultrapassar cercas altas como o bloqueio comercial dos EUA ou o chamado período especial, após a queda da União Soviética. Dentro do sistema adotado, tenta mudar o que está errado e ratificar o que está dando certo. Na Assembleia do Poder Popular, Raúl Castro foi muito autocrítico sobre os erros cometidos. Falou em pedir menos e racionalizar mais referindo-se não ao povo, mas à funcionários que desperdiçaram combustível, um insumo sensível na ilha ou em outro lugar.
Freddy é taxista, ganha entre 30 e 50 dólares por dia e paga 10 por cento da renda ao governo. Leva passageiros de Guanabo para Havana em seu Lada russo. São 27 quilômetros de viagem. No trajeto, diz que “em Cuba, não se vive mal” e que está contente com o que tem. “Tudo é do Estado, mas eu não pago pela minha casa, saúde, educação e alimentação”. Já Diana trabalha como garçonete em um hotel. Ganha US$ 12 por mês, o que pode dobrar com alguns incentivos como não faltar ao trabalho. Aluga a casa onde vive com as duas filhas e diz que é difícil chegar ao final do mês, mesmo com as gorjetas que recebe. Ela está entre os cubanos insatisfeitos porque, além de receber um baixo salário, os pais das jovens não pagam pensão alimentícia. Um porque não dá sinal de vida e o outro porque “está subempregado, casou de novo e agora é pai de outra menina”.
Histórias como estas falam de uma dispersão salarial que se acentua com alguma liberalização em certas áreas da economia. Em Havana, os chamados paladares prosperam. São restaurantes administrados por pessoas em condições de pagar ao Estado uma determinada taxa. Um deles é o da família Rodriguez, com seis integrantes. O mais antigo se chama Manuel Antonio, nasceu na província de Granma e tem 84 anos. Conheceu o capitalismo nos tempos do ditador Fulgêncio Batista e diz: “Prefiro o comunismo, que me deu tudo o que tenho”.
Há pequenos comerciantes por toda parte, motoristas que levam turistas em carros próprios como Freddy ou artesãos que vendem em feiras produtos típicos que vão de um a mil dólares. A dualidade monetária é um dos problemas a resolver. Ela gera um abismo entre o CUC, peso conversível comparável a um dólar e o CUP, peso cubano de uso da população. Vale lembrar que a moeda americana sofre uma desvalorização de 10% no câmbio, por isso o indicado é levar Euros nas viagens.
Em Cuba há muito a fazer, mas não são mesmas necessidades de países como a Argentina ou o Brasil. Por aqui, não encontra-se pessoas vasculhando o lixo, moradores de rua, crianças viciadas em crack ou desnutridas. Ao contrário, há uma porcentagem considerável de pessoas obesas. Talvez pelo excesso de carboidratos na dieta básica distribuída pelo governo que inclui arroz, massa e pão. Mas ninguém em sã consciência pode dizer que os cubanos passam fome.
Os problemas à vista são de outro tipo. Se percebem em muitos edifícios do Centro Habana, na Avenida San Lázaro, por exemplo, onde as fachadas estão em péssimo estado, descascadas ou sem portas. Outros estão apoiados por escoras porque podem desmoronar. Nos bairros históricos e que são patrimônio da humanidade como Habana Vieja – diz Tania, cabeleireira casada com um ex-lutador – “os prédios começaram a ser consertados porque o governo investe dinheiro para mantê-los”. De fato, muitas melhorias arquitetônicas são vistas quando a capital se prepara para o 500º aniversário de fundação.
O transporte superou faz tempo as consequências do período especial. Viaja-se em melhores condições e a passagem é muito baixa. Aos ônibus comuns ou articulados com dois vagões, utilizados normalmente pelos cubanos, somam-se bici e moto-táxis, almendrones (carros bem conservados dos anos 50), os Lada ou Moscovi russos e uma incipiente frota mais moderna, ainda inatingível para a maioria da população. São veículos que custam muito mais caro do que no Brasil.
A etapa atual que se abre com Díaz Canel no poder é outra demonstração de resistência da Revolução Cubana. Foram demasiados os desafios impostos pela história e que ela os superou. Um deles segue aí, onipresente: o bloqueio dos Estados Unidos que vem asfixiando a economia desde o início dos anos 60. O novo presidente nasceu naquela época, acaba de completar 57 anos. Os cubanos dizem que é um homem preparado para cumprir a tarefa que lhe foi confiada pela Assembleia do Poder Popular que o elegeu.
Díaz Canel não está só. Duas gerações fundidas em uma – a dos revolucionários de Sierra Maestra e a dele – estão representadas em seu governo. Já sem os irmãos Castro, mas com o monolítico Partido Comunista que seguirá sendo conduzido por Raúl, as organizações populares e a convicção de que Cuba é respeitada. Como indica o sentimento patriótico que se respira de Pinar del Río a Guantánamo, tributo de uma história que nasceu muito antes da Revolução. Que fala de Martí, Céspedes e Maceo, e dos comandantes do Granma. De Fidel e Che Guevara, do internacionalismo que praticam os cubanos na América do Sul, África ou Ásia. Cuba não quer ser exemplo de nada, mas repetidas vezes levou sua solidariedade ao mundo.
Por Gustavo Veiga, de Havana
Tem que ver a cara que os cubanos fazem quando são informados do que está acontecendo fora da sua ilha. Levam a mão à cabeça com o primeiro relato sobre a insegurança no Brasil. Não entendem como as drogas são um problema estrutural no México. Ou que a educação e a saúde públicas não são garantidas em muitos países. Eles reclamam, sim, de que ainda estejam longe do horizonte de prosperidade que desejam. Muitos seguem pensando em emigrar para os Estados Unidos, embora agora Cuba não seja o empecilho. São os EUA que os impedem de entrar. Foi o que aconteceu com Carlos, um motorista de ônibus que trabalha nas horas de folga como taxista, a bordo de um Oppel dos anos 50. Por três vezes ele tentou o visto para ver seu filho médico em Miami. Três vezes teve o pedido negado. O bem-estar que os cubanos querem não é vendido nas lojas de grandes marcas que oferecem consumo desenfreado, conforto e luxos. Os cubanos querem é melhorar sua baixa renda.
Aqueles que aspiravam realizar o sonho americano já vivem nos Estados Unidos há décadas. Partiram pelo porto de Mariel ou chegaram em jangadas à costa da Flórida. Os que gostariam de segui-los têm uma tarefa difícil. A hostilidade do governo Donald Trump fez com que agora, para conseguir o visto, precisem viajar para Guiana ou Colômbia. A passagem custa-lhes nada menos que 900 dólares. Mais um obstáculo a caminho dos EUA, embora o escritório americano em Havana diga aos cubanos que o problema será resolvido nos próximos meses.
Após a eleição de Miguel Díaz Canel como chefe de Estado, a vida segue com normalidade na ilha. Talvez porque haja certeza absoluta de que o socialismo permanecerá. Desde o ponto de partida em 1959, Cuba procura se reinventar. O país precisou ultrapassar cercas altas como o bloqueio comercial dos EUA ou o chamado período especial, após a queda da União Soviética. Dentro do sistema adotado, tenta mudar o que está errado e ratificar o que está dando certo. Na Assembleia do Poder Popular, Raúl Castro foi muito autocrítico sobre os erros cometidos. Falou em pedir menos e racionalizar mais referindo-se não ao povo, mas à funcionários que desperdiçaram combustível, um insumo sensível na ilha ou em outro lugar.
Freddy é taxista, ganha entre 30 e 50 dólares por dia e paga 10 por cento da renda ao governo. Leva passageiros de Guanabo para Havana em seu Lada russo. São 27 quilômetros de viagem. No trajeto, diz que “em Cuba, não se vive mal” e que está contente com o que tem. “Tudo é do Estado, mas eu não pago pela minha casa, saúde, educação e alimentação”. Já Diana trabalha como garçonete em um hotel. Ganha US$ 12 por mês, o que pode dobrar com alguns incentivos como não faltar ao trabalho. Aluga a casa onde vive com as duas filhas e diz que é difícil chegar ao final do mês, mesmo com as gorjetas que recebe. Ela está entre os cubanos insatisfeitos porque, além de receber um baixo salário, os pais das jovens não pagam pensão alimentícia. Um porque não dá sinal de vida e o outro porque “está subempregado, casou de novo e agora é pai de outra menina”.
Histórias como estas falam de uma dispersão salarial que se acentua com alguma liberalização em certas áreas da economia. Em Havana, os chamados paladares prosperam. São restaurantes administrados por pessoas em condições de pagar ao Estado uma determinada taxa. Um deles é o da família Rodriguez, com seis integrantes. O mais antigo se chama Manuel Antonio, nasceu na província de Granma e tem 84 anos. Conheceu o capitalismo nos tempos do ditador Fulgêncio Batista e diz: “Prefiro o comunismo, que me deu tudo o que tenho”.
Há pequenos comerciantes por toda parte, motoristas que levam turistas em carros próprios como Freddy ou artesãos que vendem em feiras produtos típicos que vão de um a mil dólares. A dualidade monetária é um dos problemas a resolver. Ela gera um abismo entre o CUC, peso conversível comparável a um dólar e o CUP, peso cubano de uso da população. Vale lembrar que a moeda americana sofre uma desvalorização de 10% no câmbio, por isso o indicado é levar Euros nas viagens.
Em Cuba há muito a fazer, mas não são mesmas necessidades de países como a Argentina ou o Brasil. Por aqui, não encontra-se pessoas vasculhando o lixo, moradores de rua, crianças viciadas em crack ou desnutridas. Ao contrário, há uma porcentagem considerável de pessoas obesas. Talvez pelo excesso de carboidratos na dieta básica distribuída pelo governo que inclui arroz, massa e pão. Mas ninguém em sã consciência pode dizer que os cubanos passam fome.
Os problemas à vista são de outro tipo. Se percebem em muitos edifícios do Centro Habana, na Avenida San Lázaro, por exemplo, onde as fachadas estão em péssimo estado, descascadas ou sem portas. Outros estão apoiados por escoras porque podem desmoronar. Nos bairros históricos e que são patrimônio da humanidade como Habana Vieja – diz Tania, cabeleireira casada com um ex-lutador – “os prédios começaram a ser consertados porque o governo investe dinheiro para mantê-los”. De fato, muitas melhorias arquitetônicas são vistas quando a capital se prepara para o 500º aniversário de fundação.
O transporte superou faz tempo as consequências do período especial. Viaja-se em melhores condições e a passagem é muito baixa. Aos ônibus comuns ou articulados com dois vagões, utilizados normalmente pelos cubanos, somam-se bici e moto-táxis, almendrones (carros bem conservados dos anos 50), os Lada ou Moscovi russos e uma incipiente frota mais moderna, ainda inatingível para a maioria da população. São veículos que custam muito mais caro do que no Brasil.
A etapa atual que se abre com Díaz Canel no poder é outra demonstração de resistência da Revolução Cubana. Foram demasiados os desafios impostos pela história e que ela os superou. Um deles segue aí, onipresente: o bloqueio dos Estados Unidos que vem asfixiando a economia desde o início dos anos 60. O novo presidente nasceu naquela época, acaba de completar 57 anos. Os cubanos dizem que é um homem preparado para cumprir a tarefa que lhe foi confiada pela Assembleia do Poder Popular que o elegeu.
Díaz Canel não está só. Duas gerações fundidas em uma – a dos revolucionários de Sierra Maestra e a dele – estão representadas em seu governo. Já sem os irmãos Castro, mas com o monolítico Partido Comunista que seguirá sendo conduzido por Raúl, as organizações populares e a convicção de que Cuba é respeitada. Como indica o sentimento patriótico que se respira de Pinar del Río a Guantánamo, tributo de uma história que nasceu muito antes da Revolução. Que fala de Martí, Céspedes e Maceo, e dos comandantes do Granma. De Fidel e Che Guevara, do internacionalismo que praticam os cubanos na América do Sul, África ou Ásia. Cuba não quer ser exemplo de nada, mas repetidas vezes levou sua solidariedade ao mundo.
O BEM-ESTAR QUE OS CUBANOS QUEREM NÃO É VENDIDO NAS LOJAS DE GRANDES MARCAS. Tem que ver a cara que os cubanos fazem quando são informados do que está acontecendo fora da sua ilha. Levam a mão à cabeça com o primeiro relato sobre a insegurança no Brasil. Não entendem como as drogas são um problema estrutural no México. Ou que a educação e a saúde públicas não são garantidas em muitos países. Eles reclamam, sim, de que ainda estejam longe do horizonte de prosperidade que desejam. Muitos seguem pensando em emigrar para os Estados Unidos, embora agora Cuba não seja o empecilho. São os EUA que os impedem de entrar. Foi o que aconteceu com Carlos, um motorista de ônibus que trabalha nas horas de folga como taxista, a bordo de um Oppel dos anos 50. Por três vezes ele tentou o visto para ver seu filho médico em Miami. Três vezes teve o pedido negado. O bem-estar que os cubanos querem não é vendido nas lojas de grandes marcas que oferecem consumo desenfreado, conforto e luxos. Os cubanos querem é melhorar sua baixa renda.
Reviewed by BLOG Catende No Rastro da Notícia
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