3 CRISES INTERNACIONAIS 'OCULTADAS' PELO CORONAVÍRUS
3 crises internacionais 'ocultadas' pelo coronavírus
Crise migratória na Grécia, disputa interminável entre Estados Unidos e Irã e surto histórico de dengue nas Américas são algumas delas.
Por BBC
14/03/2020 18h51 Atualizado há 3 horas
Milhares de pessoas estão tentando chegar à Grécia. Muitos delas são crianças — Foto: Getty Images/BBC
Não se fala de outra coisa senão coronavírus. A pandemia infectou cerca de 150 mil pessoas em todo o mundo, deixando mais de 5 mil mortos até agora.
O aumento exponencial da propagação do vírus alertou as autoridades internacionais de saúde e levou muitos países a tomar medidas vigorosas, como fechar suas fronteiras ou impor isolamento a seus habitantes.
Mas, em meio a esse caos, existem outros eventos no mundo que acabaram 'ocultados' pelas notícias sobre a pandemia.
A BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, resume abaixo três dos mais importantes eventos noticiosos que ocorreram enquanto o mundo volta suas atenções para o vírus.
Em meio à crise migratória na Grécia, forças de segurança do país estão tentando dispersar os solicitantes de asilo com gás lacrimogêneo — Foto: Getty Images/BBC
1. Crise migratória na Grécia
Talvez uma das crises internacionais mais relevantes nas últimas semanas seja o que está acontecendo na Grécia.
Neste mês, centenas de migrantes e refugiados chegaram de barco às ilhas gregas, perto da Turquia, aumentando a pressão sobre os centros de imigração.
Os campos nessas ilhas já têm quase 42 mil solicitantes de asilo, embora tenham sido projetados para acomodar aproximadamente 6 mil. A agência humanitária Médicos sem Fronteira (MSF), que trabalha nas ilhas, diz que mais de 14 mil desses migrantes são crianças.
"Homens, mulheres e crianças vivem em condições horríveis nesses centros superlotados, com medo constante e com acesso muito básico a serviços como banheiros, chuveiros, eletricidade", disse à BBC Stephan Oberreit, chefe de missão dos Médicos Sem Fronteiras da BBC na Grécia.
Muitos dos migrantes são sírios que fogem da guerra civil, mas também há afegãos, paquistaneses e africanos ocidentais.
Grécia colocou blocos de concreto na fronteira de Kastanies para impedir travessia de migrantes — Foto: Getty Images/BBC
A crise desencadeada com a entrada ilegal dessas milhares de pessoas fez a Grécia reagir com medidas extremas.
Nos últimos dias, a polícia do país disparou gás lacrimogêneo contra multidões na passagem de fronteira de Kastanies, que responderam atirando pedras e gritando "abra as portas".
A nova onda de imigrantes que tentam chegar à fronteira grega ocorre depois que o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, assinalou que seu país estava "abrindo as portas" para os refugiados entrarem na Europa.
A Turquia, que já abriga 3,7 milhões de refugiados sírios, chegou a um acordo com a União Europeia em 2016. Por meio desse pacto, comprometeu-se a não para permitir que os imigrantes atravessem suas fronteiras com a Europa. Em contrapartida, recebe fundos para ajudar a gerenciar o grande número de refugiados que abriga.
No entanto, Erdogan acusou o bloco de não fazer o suficiente para ajudar.
Em resposta, as autoridades gregas afirmaram que os imigrantes estavam sendo "manipulados como peões" pela Turquia, na tentativa de exercer pressão diplomática.
Grécia suspendeu temporariamente o processamento de novos pedidos de asilo — Foto: Getty Images/BBC
Ao mesmo tempo, a Grécia suspendeu temporariamente o processamento de novos pedidos de asilo daqueles que entram ilegalmente, uma medida que foi condenada por grupos de ajuda humanitária.
E assim, em meio a esta grave crise diplomática, centenas de milhares de refugiados aguardam para receber ajuda que, até agora, parece estar muito longe de acontecer.
Além disso, muitos temem que a situação possa piorar após a confirmação de um caso de coronavírus em um dos campos de refugiados na ilha grega de Lesbos.
Neste sentido, a Médicos Sem Fronteiras alertou que "péssimas condições de vida em campos lotados" aumentam o risco de propagação do surto.
Depois que Estados Unidos mataram o general Qasem Soleimani, Irã prometeu 'vingança severa' — Foto: Getty Images/BBC
2. Rivalidade entre Estados Unidos e Irã
A tensão entre os Estados Unidos e o Irã não deu trégua. E nesta semana, a disputa entre os dois países - que se arrasta há décadas - registrou um novo episódio.
Na noite de quinta-feira, 12 de março, os Estados Unidos lançaram uma série de ataques aéreos de retaliação contra um grupo de milicianos pró-iranianos no Iraque, depois que um ataque com foguete matou dois de seus soldados.
Segundo o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, esses foram "ataques defensivos de precisão" contra cinco instalações de armazenamento de armas que procuravam "prejudicar significativamente" a capacidade das milícias de realizar ações futuras.
O exército iraquiano informou que três soldados, dois policiais e um civil morreram nesse contra-ataque americano.
Os Estados Unidos acusaram as milícias apoiadas pelo Irã de 13 ataques a bases iraquianas que abrigaram forças da coalizão no ano passado.
Em um desses incidentes, ocorrido em dezembro de 2019, a morte de um civil americano desencadeou uma espiral de violência que finalmente levou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a ordenar o ataque que resultou na morte do então principal general iraniano, Qassem Soleimani.
Isso gerou sérias consequências a nível internacional e se refletiu em uma escalada na crise entre os dois países.
Segundo o jornalista Nafiseh Kohnavard, do serviço persa da BBC, este último ataque dos Estados Unidos teve importância "significativa", uma vez que acontece dias antes deste domingo, 15 de março, o prazo para as forças americanas deixarem o país.
"Os ataques não foram apenas uma retaliação contra ataques de foguetes na base de Taji, que mataram três membros da coalizão liderada pelos EUA, mas também tiveram como objetivo reduzir as capacidades dos grupos", explica Kohnavard.
3. Surto recorde de dengue nas Américas
Enquanto as autoridades de saúde estão focadas no novo coronavírus, os EUA estão experimentando a maior disseminação "na história" de outra doença: a dengue.
Segundo um relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em 2019, 3.139.335 casos de infecção transmitida por mosquitos foram registradas, causando 1.538 mortes.
O número de infectados é seis vezes superior ao de 2018 (561.393).
Belize, Costa Rica, El Salvador, México e Nicarágua notificaram três vezes mais casos do que no ano anterior, segundo a OPAS. Em outros países, como Brasil, Guatemala, Honduras e República Dominicana, os casos de dengue subiram entre sete a dez vezes mais em relação a 2018.
Enquanto isso, nas quatro primeiras semanas de 2020, foram registrados 125.514 casos, o que excede o mesmo período do ano passado.
Dengue é transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti — Foto: Getty Images/BBC
O crescimento deste surto causou preocupação entre as autoridades da região. Algumas áreas foram declaradas emergência de saúde, enquanto praças e casas em várias cidades foram fumigadas.
O representante da OPAS na Bolívia, Alfonso Tenorio, disse que essa é a "pior epidemia de dengue da história das Américas".
Na Argentina, o ministro da Saúde, Ginés González García, reconheceu estar "muito preocupado" com a situação da dengue no país.
"Está em plena expansão no Paraguai ... É esperado um pico na Argentina para a primeira quinzena de março", afirmou.
Mas, apesar da preocupação de alguns, a dengue - como outros eventos importantes - permaneceu em segundo plano por causa do novo coronavírus.
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