DESCANSE EM PAZ - ZÉ CELSO – “ARTISTA DO POVO” – CATENDE NO RASTRO DA NOTÍCIA
DESCANSE EM PAZ - ZÉ CELSO – “ARTISTA DO POVO” – DO CATENDE NO RASTRO DA NOTÍCIA
Zé Celso Martinez Corrêa morre em São Paulo
Dramaturgo
Zé Celso havia sido internado após sofrer queimaduras em um incêndio em seu
apartamento
- Caso Zé Celso: os graves riscos de uma queimadura no corpo
- Zé
Celso: como as queimaduras levaram à falência renal e dos outros
órgãos
Zé Celso, de 86 anos, estava
dormindo em seu quarto quando, por volta das 7h30, sua casa começou a pegar
fogo. De acordo com vizinhos, a suspeita é que o fogo tenha começado após um
curto-circuito do aquecedor. O 36º DP (Vila Mariana) da Polícia Civil investiga
as causas do incêndio. Ele foi encaminhado para a Unidade de Tratamento
Intensivo (UTI), onde foi entubado após ter queimaduras em 60% do corpo.
- Blog do Acervo: Os dois incêndios que marcaram a vida do dramaturgo
- Relembre: Briga de Zé Celso e Silvio Santos por terreno ao lado
do Teatro Oficina
Veja
fotos do dramaturgo José Celso Martinez, o Zé Celso
Marcelo Drummond, Victor Rosa e Ricardo Bittencourt também
estavam no apartamento
No apartamento, havia outras três pessoas: seu marido Marcelo Drummond, e os atores Victor Rosa e Ricardo Bittencourt. Os três não sofreram queimaduras, mas foram
encaminhados para um hospital porque inalaram muita fumaça. Victor foi o
responsável por puxar o dramaturgo, que estava deitado no chão com muitas
queimaduras. O apartamento de Zé Celso fica no sexto e último andar do prédio.
Quem é Zé Celso?
Nascido em 1937, em Araraquara, Zé Celso é considerado
um dos principais dramaturgos do país, e tem seu nome associado desde o final
dos anos 1950 com o Teatro Oficina, uma das mais importantes companhias
brasileiras, há 65 anos em atividade. O grupo tem origem no Centro Acadêmico 11
de Agosto, da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, onde o futuro
dramaturgo e diretor estudava, e, com outros estudantes, fundou o Grupo de
Teatro Amador Oficina. Dirigidos por Amir Haddad, seus primeiros textos são
autobiográficos: "Vento forte para papagaio subir" (1958) e "A
incubadeira" (1959).
Em 1961, já em processo de profissionalização, o grupo aluga a
sede do Teatro Novos Comediantes, tendo como fundadores, além de Zé Celso,
Renato Borghi (1937), Ítala Nandi (1942) e Etty Fraser (1931-2018). Neste
período, a companhia obtém repercussão montando textos como "Pequenos
burgueses" (1963), do russo Máximo Gorki (1868-1936), com influências do
método Stanislavski. Com o golpe militar no ano seguinte, a peça é censurada e
obrigada fazer cortes.
Ainda em 1964, o diretor monta "Andorra", do suíço Max
Frisch (1911-1991), usando a crítica ao antissemitismo do texto original para
abordar o regime militar brasileiro, e marcando a transição do grupo ao teatro
épico de Bertolt Brecht (1898-1956). Entre 1964 e 1966, Zé Celso viaja para a
Europa, e, na volta ao Brasil, monta no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC)
"Os inimigos", outro texto de Gorki. No mesmo ano, o prédio do
Oficina é incendiado por grupos paramilitares, e a companhia remonta antigos
sucessos para levantar fundos.
Revolução com
'O Rei da Vela'
Em 1967, Zé Celso escreve seu nome
definitivamente na história do teatro brasileiro com a adaptação do clássico
modernista de Oswald de Andrade (1890-1954), "O Rei da Vela".
Mesclando linguagens como o melodrama e o teatro de revista à cultura pop, o
espetáculo é considerado o marco inicial do tropicalismo nos palcos. No ano
seguinte, outro espetáculo fundamental para a dramaturgia brasileira,
"Roda viva", primeiro texto teatral de Chico Buarque, torna-se um
símbolo da luta contra a censura e pela liberdade de expressão. O elenco e a
equipe do espetáculo sofrem dois atentados: em julho, o Comando de Caça aos
Comunistas (CCC) invade o Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, depredando o
espaço e agredindo os artistas; em outubro, após o fim da sessão de estreia no
Teatro Leopoldina, em Porto Alegre, a atriz Elizabeth Gasper (que substituiu
Marília Pêra) e o músico Zelão foram sequestrados e levados a um local ermo,
onde foram ameaçados de morte. A montagem foi interrompida e, em seguida,
censurada pelo regime militar.
Exílio e sede assinada por Lina
Bo Bardi
Já marcado pela repressão pós-AI-5, Zé Celso e o Oficina
buscam inovações cênicas para driblar a censura, até que, em 1974, o diretor e
dramaturgo é preso e torturado, sendo libertado após 20 dias. Após um período
de exílio em Portugal - onde dirigiu o documentário "O parto" (1975),
sobre a Revolução dos Cravos, no ano anterior - Zé Celso volta em 1978, e
retoma as atividades do grupo, que, em 1984, passa a se chamar Associação
Teatro Oficina Uzyna Uzona. No mesmo ano, tem início da reforma de sua sede, no
bairro da Bela Vista, com projeto de Lina Bo Bardi (1914 -1992) e Edson Elito,
concluído em 1994, inaugurado com o nome de Terreiro Eletrônico.
Em 1987, sua vida é marcada por
trágica perda de seu irmão caçula, Luís Antônio Martinez Corrêa. Colaborador do
Oficina e diretor de espetáculos como o musical "A ópera do malandro"
(1978), de Chico Buarque, com Marieta Severo, Elba Ramalho e Ary Fontoura no
elenco, Luís Antônio foi assassinado com 107 facadas em seu apartamento, em
Ipanema. Dias depois, o surfista Gláucio Garcia de Arruda foi preso após ser
identificado pelo porteiro como a última pessoa a sair do apartamento do
diretor. Após absolvição em primeira instância, foi condenado em segunda
instância, em 1989, a 20 anos de prisão por roubo seguido de morte. Pela
brutalidade com que Luís Antônio foi assassinado (foi encontrado nu em sua
cama, com mãos e pés amarrados), a classe teatral viu no crime um ato de
homofobia. A cada 23 de dezembro, data da morte do diretor, a companhia realiza
uma homenagem, o Rito de Ethernidade de Luis.
Da década de 1990 em diante, Zé Celso volta a alcançar grande
repercussão com o Oficina em montagens como "As bacantes" (1996),
"Cacilda!" (1998) e a adaptação na íntegra de "Os sertões"
(2002-2006), de Euclides da Cunha (1866-1906).
Além da extensa carreira no teatro, Zé Celso também atuou na
frente das câmeras, em filmes como "Árido movie" (2006), de Lírio
Ferreira; "Encarnação do demônio" (2008), de José Mojica Marins
(1936-2020); e "Fédro" (2021), de Marcelo Sebá. Na TV, participou da
novela "Cordel encantado" (2013), exibida pela TV Globo. Em 2018, ele
foi laureado com o Prêmio Faz Diferença, do jornal O GLOBO.
Briga com Silvio Santos
Desde 1980, Zé Celso brigava na Justiça com Silvio
Santos para manter o projeto original do Oficina, cuja sede é considerada
patrimônio histórico pela Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio
Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico). O edifício tem como
característica uma grande janela lateral, que permite ver a cidade durante as
montagens. Contudo, há 43 anos, o apresentador e empresário comprou um terreno
contíguo ao teatro, com planos de erguer um prédio com mais de cem metros de altura
para o Grupo Silvio Santos, e o diretor entrou na Justiça para impedir.
Em 2016, um projeto para construção
de três torres da Sisan, braço imobiliário do Grupo Silvio Santos, foi proibido
pelo Condephaat, mas no ano seguinte a decisão foi revertida. Os dois se
encontraram em várias reuniões, mas não houve uma solução consensual. No ano
passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) proibiu a prefeitura de
autorizar a construção de um empreendimento imobiliário com mil apartamentos no
terreno, que havia sido liberada pelos órgãos de preservação municipais. Um
projeto para a criação do Parque do Bixiga (que seria negociado com uma permuta
de terrenos com Silvio Santos) foi aprovado em duas votações, mas acabou vetado
em 2020 pelo prefeito em exercício Eduardo Tuma. O Grupo Silvio Santos recorreu
à segunda instância.
Ao se casar com Marcelo Drummond, Zé Celso convidou Silvio Santos
para a cerimônia, dizendo que esperava receber como presente a doação do
terreno ao Oficina. O casal também planejava plantar um ipê que ganhou de
presente de Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, que plantariam no terreno ao
lado do teatro. No entanto, a empresa Residencial Bela Vista, do Grupo Silvio
Santos, entrou com uma liminar, no dia da cerimônia, para impedir qualquer tipo
de ação no terreno, sob pena de uma multa de R$ 200 mil no caso do descumprimento.
O que causou o incêndio no
apartamento de Zé Celso?
De acordo com vizinho que não quis se identificar, o
fogo começou nos apartamentos 62 e 63, que são unidades conjuntas, por volta
das 7h30. O prédio do dramaturgo e diretor de teatro fica na Rua Achilles
Masetti, no Paraíso, Zona Sul da capital.
Os bombeiros chegaram por volta das 8h. Oito viaturas atuaram na
ocorrência e o fogo só foi extinto por volta das 10h. Segundo relatos de
moradores do prédio, o fogo começou devido a um curto-circuito no ar
condicionado.
Em 2016, um projeto para construção
de três torres da Sisan, braço imobiliário do Grupo Silvio Santos, foi proibido
pelo Condephaat, mas no ano seguinte a decisão foi revertida. Os dois se
encontraram em várias reuniões, mas não houve uma solução consensual. No ano
passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) proibiu a prefeitura de
autorizar a construção de um empreendimento imobiliário com mil apartamentos no
terreno, que havia sido liberada pelos órgãos de preservação municipais. Um
projeto para a criação do Parque do Bixiga (que seria negociado com uma permuta
de terrenos com Silvio Santos) foi aprovado em duas votações, mas acabou vetado
em 2020 pelo prefeito em exercício Eduardo Tuma. O Grupo Silvio Santos recorreu
à segunda instância.
Ao se casar com Marcelo Drummond, Zé Celso convidou Silvio Santos
para a cerimônia, dizendo que esperava receber como presente a doação do
terreno ao Oficina. O casal também planejava plantar um ipê que ganhou de
presente de Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, que plantariam no terreno ao
lado do teatro. No entanto, a empresa Residencial Bela Vista, do Grupo Silvio
Santos, entrou com uma liminar, no dia da cerimônia, para impedir qualquer tipo
de ação no terreno, sob pena de uma multa de R$ 200 mil no caso do
descumprimento.
O que causou o incêndio no
apartamento de Zé Celso?
De acordo com vizinho que não quis se identificar, o
fogo começou nos apartamentos 62 e 63, que são unidades conjuntas, por volta
das 7h30. O prédio do dramaturgo e diretor de teatro fica na Rua Achilles
Masetti, no Paraíso, Zona Sul da capital.
Os bombeiros chegaram por volta das 8h. Oito viaturas atuaram na
ocorrência e o fogo só foi extinto por volta das 10h. Segundo relatos de
moradores do prédio, o fogo começou devido a um curto-circuito no ar
condicionado.
pes, O Globo —
São Paulo
06/07/2023 09h13 Atualizado há 6
horas
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