“SOU DOENTE E NÃO TENHO VONTADE DE VIVER” FUI PRESO INJUSTAMENTE E CONTRAIR O HIV NA PRISÃO APÓS SOFRER ESTUPRO COLETIVO. A AUSÊNCIA DE DADOS OFICIAIS SOBRE AS PRISÕES PROVOCADAS POR ERROS DOS AGENTES PÚBLICOS É UM INDÍCIO DA INVISIBILIDADE DESSAS “VÍTIMAS” DO SISTEMA PENAL: ÓRGÃO DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, O DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL (DEPEN) DIZ NÃO CONTAR COM ESTUDOS A RESPEITO DE CONDENADOS INJUSTAMENTE E SUGERE UMA CONSULTA AOS BANCOS DE DADOS DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ); JÁ O CNJ AFIRMA NÃO ACOMPANHAR ESSES CASOS E SUGERE QUE O DEPEN SEJA PROCURADO. PESQUISAS INDEPENDENTES, NO ENTANTO, MOSTRAM A GRAVIDADE DAS PRISÕES INJUSTAS NO BRASIL. EM 2013, SÓ NO RIO, 772 FORAM PRESOS, SUPOSTAMENTE EM FLAGRANTE, PARA DEPOIS SEREM ABSOLVIDOS. O LEVANTAMENTO FOI REALIZADO PELO INSTITUTO SOU DA PAZ EM PARCERIA COM O CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANÇA E CIDADANIA (CESEC), DA UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES. O NÚMERO, QUE INCLUI PESSOAS INOCENTADAS E LIBERADAS POR FALTA DE PROVAS, CORRESPONDE A CERCA DE 10% DOS 7.734 FLAGRANTES NA CIDADE DURANTE O ANO.
“Sou doente e não tenho vontade de viver” fui preso injustamente e contrair o HIV na prisão após sofrer estupro coletivo.
A ausência de dados oficiais sobre as prisões provocadas por erros dos agentes públicos é um indício da invisibilidade dessas “vítimas” do sistema penal: órgão do Ministério da Justiça, o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) diz não contar com estudos a respeito de condenados injustamente e sugere uma consulta aos bancos de dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ); já o CNJ afirma não acompanhar esses casos e sugere que o Depen seja procurado. Pesquisas independentes, no entanto, mostram a gravidade das prisões injustas no Brasil. Em 2013, só no Rio, 772 foram presos, supostamente em flagrante, para depois serem absolvidos. O levantamento foi realizado pelo Instituto Sou da Paz em parceria com o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), da Universidade Cândido Mendes. O número, que inclui pessoas inocentadas e liberadas por falta de provas, corresponde a cerca de 10% dos 7.734 flagrantes na cidade durante o ano.
— Isso mostra a triste realidade do sistema de Justiça criminal no Brasil — critica Ivan Marques, diretor do Instituto Sou da Paz: — Nossos juízes e policiais têm uma ânsia de encarcerar as pessoas. Os erros cometidos não são poucos. Há casos de gente presa provisoriamente por mais de cem dias e que depois é absolvida. É um absurdo do ponto de vista público, pelo valor gasto pelo Estado em prisões, e um fracasso do ponto de vista humano.Foto reprodução
Para Héberson Lima, de 35 anos, o tempo em que esteve na prisão levou não apenas dois anos e sete meses, mas também tomou dele trabalho, saúde, a família e a vontade de viver. O então ex-pedreiro foi preso em 2003, ao ser acusado por um vizinho de estuprar uma criança de 9 anos em Manaus. No cárcere, ele foi violentado diversas vezes e adquiriu HIV. O caso mudou de rumo apenas quando a defensora pública Ilmair Faria Siqueira constatou que, embora a vítima tivesse reconhecido Héberson, as feições descritas pela menina não coincidiam com a do acusado. Segundo seu relato inicial, o verdadeiro autor do crime era banguela, alto e “aloirado”, um perfil que definitivamente não era o de Héberson.
— Quando o promotor viu o resultado da perícia sobre as características físicas, não teve opção, a não ser a absolvição — relata a defensora.
Uma década após ser solto, o amazonense ainda tenta que os danos que sofreu sejam reparados. Depois da prisão, ele perdeu o emprego, separou-se da mulher e teve de se submeter a tratamento para o HIV. Entre idas e vindas de processos pedindo indenização, ele agora aguarda o desfecho de ação em que solicita R$ 150 mil do Estado em favor dos dois filhos, de 13 e 15 anos.
— A prisão só me trouxe desgraça. Ficávamos amontoados, e os presos se maltratavam. Eu achava que ia sair, mas passou o primeiro ano, o segundo ano, e eu fiquei esperando. Pensei em suicídio — lembra Héberson: — Hoje, sou doente e não tenho vontade de viver. Trabalho fazendo bico, um pouco aqui e ali. Mas nem esforço físico eu posso fazer.
Ao ser questionado sobre a expectativa em ainda receber ressarcimento pela prisão, ele dispara: — A esperança é a última que morre, mas tomara que eu não morra antes dela.
Fonte *Com informações de O Globo http://www.macaubenselife.com.br/2017/09/sou-doente-e-nao-tenho-vontade-de-viver.html?m=0
“SOU DOENTE E NÃO TENHO VONTADE DE VIVER” FUI PRESO INJUSTAMENTE E CONTRAIR O HIV NA PRISÃO APÓS SOFRER ESTUPRO COLETIVO. A AUSÊNCIA DE DADOS OFICIAIS SOBRE AS PRISÕES PROVOCADAS POR ERROS DOS AGENTES PÚBLICOS É UM INDÍCIO DA INVISIBILIDADE DESSAS “VÍTIMAS” DO SISTEMA PENAL: ÓRGÃO DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, O DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL (DEPEN) DIZ NÃO CONTAR COM ESTUDOS A RESPEITO DE CONDENADOS INJUSTAMENTE E SUGERE UMA CONSULTA AOS BANCOS DE DADOS DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ); JÁ O CNJ AFIRMA NÃO ACOMPANHAR ESSES CASOS E SUGERE QUE O DEPEN SEJA PROCURADO. PESQUISAS INDEPENDENTES, NO ENTANTO, MOSTRAM A GRAVIDADE DAS PRISÕES INJUSTAS NO BRASIL. EM 2013, SÓ NO RIO, 772 FORAM PRESOS, SUPOSTAMENTE EM FLAGRANTE, PARA DEPOIS SEREM ABSOLVIDOS. O LEVANTAMENTO FOI REALIZADO PELO INSTITUTO SOU DA PAZ EM PARCERIA COM O CENTRO DE ESTUDOS DE SEGURANÇA E CIDADANIA (CESEC), DA UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES. O NÚMERO, QUE INCLUI PESSOAS INOCENTADAS E LIBERADAS POR FALTA DE PROVAS, CORRESPONDE A CERCA DE 10% DOS 7.734 FLAGRANTES NA CIDADE DURANTE O ANO.
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