CONHEÇA O EXECUTIVO QUE IMPLICOU TEMER E MAIS DE 20 POLÍTICOS EM DELAÇÃO - A PRIMEIRA DELAÇÃO DA ODEBRECHT FOI DIVULGADA NESSA SEXTA-FEIRA (9) E O AUTOR DO DEPOIMENTO É CLÁUDIO MELO FILHO, EX-DIRETOR DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS DA CONSTRUTORA. MELO FILHO AFIRMOU AO MPF QUE O PRESIDENTE MICHEL TEMER PEDIU AO EMPRESÁRIO MARCELO ODEBRECHT R$ 10 MILHÕES PARA O PMDB, EM 2014, DURANTE CAMPANHA ELEITORAL. O TEXTO CITA MAIS DE 20 POLÍTICOS, ENTRE ELES A CÚPULA DO PMDB. A IMPORTÂNCIA DO EXECUTIVO, PORÉM, ESTAVA ALÉM DE SEU CARGO POR SE RELACIONAR COM CONGRESSISTAS E SERVIDORES PÚBLICOS. O BAIANO DE 49 ANOS ERA O SUPLENTE DO EX-PRESIDENTE MARCELO ODEBRECHT NO CONSELHO ADMINISTRATIVO DA EMPREITEIRA.



  • Rodolfo Stuckert/Agência Câmara
    Ex-diretor chegou a ser condecorado com uma medalha do Mérito Legislativo em 2012
    Ex-diretor chegou a ser condecorado com uma medalha do Mérito Legislativo em 2012
Daniela Garcia
Do UOL, em São Paulo

A primeira delação da Odebrecht foi divulgada nessa sexta-feira (9) e o autor do depoimento é Cláudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da construtora. Melo Filho afirmou ao MPF que o presidente Michel Temer pediu ao empresário Marcelo Odebrecht R$ 10 milhões para o PMDB, em 2014, durante campanha eleitoral. O texto cita mais de 20 políticos, entre eles a cúpula do PMDB.
A importância do executivo, porém, estava além de seu cargo por se relacionar com congressistas e servidores públicos. O baiano de 49 anos era o suplente do ex-presidente Marcelo Odebrecht no conselho administrativo da empreiteira.
Melo Filho, que trabalhou por doze anos na área de relações institucionais, era um homem de confiança de Marcelo, segundo apontou o MPF (Ministério Público Federal) em denúncia de maio deste ano. 
"A proximidade e a relação de confiança que se estabelece entre ele e Marcelo Odebrecht pode ser depreendida não apenas em decorrência de ser o suplente desse em diversos Conselhos de Administração, mas, ainda, do teor dos e-mails apreendidos na sede da empreiteira", de acordo com texto da denúncia.
Segundo investigação do MPF, o nome de Melo Filho constava nos e-mails em que executivos trocavam informações relacionada a políticos, servidores públicas e negócios com a Petrobras.
Na denúncia do Ministério Público, foram anexadas 21 mensagens em que o ex-diretor aparece como um dos remetentes.
Nos e-mails, Marcelo Odebrecht instrui, por exemplo, a seus funcionários que "CMF" deve ser informado de reuniões com executivos da Petrobras. A sigla se refere ao nome de Cláudio Mello Filho, de acordo com a investigação.
" Há (...) diversas mensagens em que Marcelo Odebrecht orienta a outros executivos seja Cláudio Melo Filho (por diversas vezes referido pelo acrônimo "CMF", em evidente alusão a seu nome) atualizado sobre estratégias e importantes decisões e informado de compromissos relevantes", diz trecho da denúncia.
Paulo Lisboa/Folhapress
Melo Filho seria homem de confiança de Marcelo Odebrecht, preso na Lava Jato

Empresa familiar

O delator é filho do ex-diretor do grupo Odebrecht, Cláudio Melo, morto em 2012. Melo era o responsável pela unidade da empresa em Brasília na década de 1980, cujo cargo foi herdado pelo filho. De acordo com o MPF, Melo foi convidado por Emilio Odebrecht para integrar a empresa. Emilio é pai de Marcelo Odebrecht.
"Assim, como bastante frisa a empresa em seu material institucional, trata-se de uma 'empresa familiar', cuja gestão se concentra nos membros da família, tanto a parte lícita, quanto, no caso de Marcelo Odebrecht, a parte ilícita", diz o MPF em outro trecho.

Denúncia arquivada por Moro

No início deste ano, Melo Filho foi acusado de oferecer propina para evitar que ex-dirigentes da empreiteira fossem convocados por uma CPI sobre o esquema da Petrobras. A acusação apareceu na denúncia contra o ex-senador Gim Argello [atualmente preso pela Operação Lava Jato].
O executivo chegou a ser alvo de uma condução coercitiva na Lava Jato, além de um mandado de busca e apreensão em março de 2016.
Em 10 de maio, o juiz Sérgio Moro determinou o arquivamento da denúnciaoferecida pelo MPF contra Melo Filho no processo contra Argello por acreditar não ter provas suficientes de que a relação entre Gim Argello e o executivo teria a ver com pagamentos ilegais.
Na peça, o juiz de Curitiba diz que Melo "auxiliou Marcelo Bahia Odebrecht nos contatos e pagamentos" a Argello por meio de doações de campanha registradas pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).  

Medalha de Mérito Legislativo

Não havia suspeita contra Melo à época da homenagem. Melo ocupava o cargo de vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht.
A medalha é a maior honraria concedida pela Câmara. Trata-se de "uma forma de homenagear personalidades, brasileiras ou estrangeiras, que realizaram ou realizam serviço de relevância para a sociedade" e cujo trabalho "recebeu a admiração do povo brasileiro", diz o site da Casa. A premiação é entregue anualmente, geralmente no fim do ano.
UOL procurou a Odebrecht para saber o posicionamento da empresa em relação ao conteúdo vazado da delação de Melo Filho, mas o grupo informou, em nota, que "não se manifesta sobre negociação com a Justiça".
Afirmou, no entanto, que "reforça seu compromisso com uma atuação ética, íntegra e transparente, expresso por meio das medidas concretas já adotadas para reforçar e ampliar o Sistema de Conformidade nas empresas do grupo". E lembrou do comunicado divulgado no último dia 1º, no qual a Odebrecht apresentou pediu desculpas à sociedade pelos desvios de conduta nos negócios.

TEMER PEDIU R$ 10 MILHÕES À ODEBRECHT, DIZ EXECUTIVO EM DELAÇÃO

Giro UOL

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